Lembro-me como se hoje fosse da noite em que o meu irmão ligou a dizer que a nossa avó Guida tinha partido para o Senhor. Janeiro de 2002. Estava com o Tim em Espanha, onde ele tirava um curso de uma semana. Minutos antes tínhamos visto nevar pela primeira vez. 10 minutos. Prenda de Deus antes da notícia via telefone. No manhã seguinte dei comigo sozinha no parque gelado, a olhar a montanha no horizonte com os cumes cobertos de neve. A primeira manhã do resto da minha vida. Na viagem de comboio Madrid-Lisboa li o livro que pertencera à minha avó, "Na casa de meu Pai", da Corrie Ten Boom. Nessa viagem, feita durante a noite, as seguintes palavras ficaram impressas no meu coração:
"William disse:
-Vamos até à praia para gozar de tão glorioso dia!- e começou a entoar em alta voz uma música de Bach.
De algum modo era aceitável o regozijo íntimo; entretanto, não achava correto exteriorizar tais sentimentos.
-William, como podes tu agir dessa maneira? Tia Bep acaba de falecer; não devias mostrar-te tão alegre!...
-É claro que devemos estar alegres, Corrie. Um filho de Deus é um cidadão dos céus; a atitude do cristão deve ser de louvor diante da morte de alguém. O nosso pesar pela morte da tia Bep seria um tipo de egoísmo da nossa parte, assim como se sofrêssemos por nós mesmos.
Cheguei a Lisboa com o coração cheio de paz e com uma alegria íntima que não conseguia explicar. Por este simples e maravilhoso facto: saber que a vovó que eu tanto amava estava com o Senhor, em perfeito gozo, melhor do que jamais estivera! A alegria em saber que estava perfeitamente feliz tornara-se maior que a minha tristeza, algures, naquela viagem de comboio.
Mas, durante algum tempo, quando perdemos alguém que amamos muito, que faz realmente parte de nós, há como que uma peça de um puzzle em falta. Por vezes até as ruas nos parecem diferentes. Mas Deus, no Seu tempo, de maneira graciosa preenche a lacuna. Ele é o perfeito Consolador.