Não há maior lembrança da vida do
que a morte. A morte ilumina a realidade. Põe a eternidade às claras. Tem esta
capacidade de fazer a vida passar diante dos nossos olhos em minutos breves.
Entro no portão do cemitério. As
palavras ecoam: “O pó volte à terra e o espírito volte a Deus que o deu.” Vida.
Esse fôlego que nos escapa. As vestes pretas contrastam com o azul do céu.
Cinzas do que fomos. Visão do que viremos a ser.
No mesmo instante bebés choram
pela primeira vez, apaixonados casam-se, velas são sopradas. Emoções distintas
no mesmo globo. Lado a lado. Girando sem trégua. A música é interrompida pelo silêncio. Caminhos que se atropelam,
outros que seguem separados. Vida. A pulsar a cada passo que dou. Vida que bate
mesmo que não dê passo nenhum. Vida que o é fora e além de mim.
Instantes que se juntam em dias e
anos. Encontros que ficam por acontecer. Pessoas que os meus braços não
alcançam a tempo ou tantas vezes quanto desejado. Vale-me saber que os verei em
breve e que terei todo o tempo do mundo para desfrutar da sua companhia. Um lugar
onde poderei abraçar sem os braços nunca doerem, sem a disposição ou o tempo
faltar. Mas... e aqueles que provavelmente não encontrarei? E sinto como que um
murro no estômago.
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