terça-feira, 14 de julho de 2015

tempo, esse individuo de passada larga.

 
Alguém parte deste mundo. Largamos tudo e corremos para junto daqueles que amamos. Esta noite fui ao velório da avó de amigos queridos. Chamava-se Isabel Calado e era uma senhora cheia de criatividade e sentido de humor, que amava profundamente a Cristo. Deu-me amigos com as mesmas características. Foi uma senhora marcante na vida dos meus pais e sempre me tratou com muito carinho quando eu chegava agarrada aos netos dela. A minha avó terminou os dias ao seu lado. Eram amigas. Hoje, tornei a pensar nesta capacidade que os funerais e casamentos têm de juntar pessoas. Família e amigos distantes. Como se a tristeza e alegria exigissem ser partilhadas com aqueles que amamos e que nos amam de volta. Com aqueles que fizeram história connosco.
Hoje abracei um amigo que não via há demasiado tempo. Um amigo que cresceu comigo, lado a lado até aos meus 20 anos. E enquanto olhava alguns dos que nos rodeavam pensava nos dias corridos que vivemos. Na loucura que é permitirmos que o tempo e as circunstâncias tomem conta de nós, de tal forma que podemos passar meses, anos, sem ver aqueles de quem gostamos. Provavelmente ingenuidade minha pensar no assunto, mas não consegui deixar de o fazer. O que é que nos leva a não arranjar espaço? Porque é que só uma situação gritante nos obriga a parar? Olhava em volta e revia algumas das mesmas caras do grupo de outrora e por segundos viajei. Ao tempo em que as caras eram menos esburacadas pela vida, os traços mais leves e airosos e os olhos traziam uma esperança mais brilhante dentro deles. A juventude traz consigo uma cor muito própria, percebo-o agora. Há uma leveza no andar, que ainda não conheceu muitas das mágoas e dores. Há um futuro que se desconhece, um mar de possibilidades, uma entrega despreocupada e sentida. Os mesmos rostos. Diferentes marcas e caminhos, até pesos. Olhares doces. Alguns semblantes pesados. O meu amigo lá estava, com algumas rugas no rosto. O mesmo jeito. O mesmo abraço. Soletra-se um "Que saudades!" e segura-se o momento.
As despedidas aqui relembram-me do dia em que não mais precisaremos dizer adeus.
 
 

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