Apresento-vos o casal mais querido à face da terra. O Bernardino e a Carminda. Estes irmãos na fé fazem parte da minha vida desde sempre. Através das igrejas, dos acampamentos e da família, já que os filhos e netos são dos amigos mais chegados que tenho.
Uma das características que mais salta à vista neste casal é a alegria constante no Senhor. Uma alegria conjunta. São 3 em 1, literalmente. A generosidade que destilam para com todos os que os rodeiam é enorme, assim como o seu serviço ao Mestre ao longo dos anos.
No sábado jantámos em casa deles e comemos um belo de um arroz de pato feito no forno a lenha e as famosas tigeladas, tudo feito pela irmã Carminda. Em toda a minha vida não me lembro de ter comido algo por ela que não estivesse absolutamente delicioso. E é tudo servido com muito carinho. Ninguém se sente de fora ou a mais perto deles. Nunca. Abraçam quem está por perto. Sempre. Isto é um dom precioso. Os olhos deles parecem ficar mais meigos com o passar dos anos.
São muitas as lembranças que tenho deles. Guardo três de forma especial. Certo ano, no ABS, no turno Familiar. Era noite das brincadeiras e eu e o meu primo João, as únicas crianças presentes [foi naquela fase em que o familiar era composto de irmãos mais idosos], preparámos uns tantos jogos. Resolvemos fazer o "o rei e a raínha", que basicamente termina com o participante a cair numa cadeira que não existe. Portanto, o jogo ideal para a faixa etária presente. A irmã Carminda voluntariou-se logo para participar, sem saber o que a esperava. A meio do jogo descobrimos que a senhora sofria das costas, o que não era nada descabido, mas que foi algo que na nossa meninice não nos passou pela cabeça. Foi diferente. Deverá ter sido a única vez na história deste jogo em que insistimos e fizemos de tudo para a o participante não se sentar, enquanto ela insistia que queria sentar-se. Acreditem, isto ao vivo foi marcante e nós já imaginávamos a ambulância a abrir caminho pelo meio dos pinheiros.
A segunda memória que sempre guardo com carinho será uma mais geral, que todos os que têm o privilégio de se cruzar e conviver com estes irmãos terão. Os hinos intermináveis que cantam juntos. As estrofes parecem mesmo crescer à medida que vão cantando. O entusiasmo também. Mas também há a famosa dança do irmão Bernardino e as incontáveis histórias, relatadas ao pormenor, sempre com um sorriso. Quando era miúda chegava a fugir delas, agora, é um gozo ouvi-las.
Afinal são quatro, as lembranças. Eis a última. É de manhã no ABS e a maioria ainda dorme. Vejo à porta da tenda os dois, em frente a um pequeno espelho que penduraram numa corda, agarrada ao estendal perto do campo. O irmão Bernardino penteia docemente o cabelo da sua amada, sempre sorrindo. Fiquei parada, a olhá-los, também eu a sorrir.
Sei que no dia em que partirem sentirei a falta deles. Calculo também que quando Deus chamar um deles, o outro não demorará a segui-lo. E se assim se for, o Senhor será gracioso.
No sábado, eu e o Timóteo terminámos a noite a apanhar os coelhos que tinham fugido. "São 6 ou 8!", dizia o irmão Bernardino. Apanhámos 7.
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