Subia a avenida da Liberdade com o filho mais velho. Olhávamos as árvores do tamanho dos prédios a perderem as vestes. Um aroma chega-me de repente, invadindo a mente e despertando memórias da minha infância. Um cheiro a comida inglesa. Tínhamos passado pela porta do Cambridge. De imediato fui levada para a casa da missão EMF, em Wellynn. Lá estava eu a empurrar a porta de refeições, após ter descido a grande escadaria. Os aromas da comida inglesa... inconfundíveis! Em catadupa seguiram-se outros cheiros. O cheiro tão característico da biblioteca, uma mistura de livros e madeira antiga, o da própria casa, o do pão de forma dentro da torradeira ao pequeno almoço. O cheiro da relva e das árvores no jardim, o cheiro a terra molhada no caminho para a igreja, do salão de cultos, da salinha dos bebés, da sala grande onde tomávamos chá e comíamos as bolachas recheadas que eu tanto apreciava. Os cheiros levaram-me de volta à drugstore com a minha mãe e à escola que frequentei durante quase dois meses. Um cheiro e uma memória atrás da outra, como se de uma taça de cerejas se tratasse.
Entretanto, a memória desvanece-se pelo cheiro a torradas que voa de uma pastelaria e acordo em casa da minha avó Guida. Lá estava ela, de manhã cedo na cozinha, a preparar calmamente torradas de papo seco com manteiga, uma caneca de Mokambo e um copo de leite gelado. O sol entrava pela janela pachorrentamente. A Bíblia era aberta.
Li algures que os cheiros são a única memória que nunca perdemos. Acontecimentos e palavras podem ser esquecidas, os cheiros permanecem.
Um menino aperta-me a mão. Regresso. Tenho folhas aos meus pés.
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