sexta-feira, 27 de novembro de 2015

sobre esta coisa de vivermos agradecidos.

 
dar graças.
quando o dia está chuvoso e planeámos um passeio. quando nos levantamos para fazer café de manhã e constatamos que acabou. quando o carro avaria e não há como pagar o arranjo. quando andamos na rua e passa um carro, nos molha e temos de regressar a casa para trocar de roupa. quando a roupa para lavar é muita e há uma casa inteira para limpar e o tempo falta. quando deixas de conseguir fazer o que mais gostas. quando os filhos desobedecem, apesar de todos os esforços. quando não podemos ter filhos. quando não há dinheiro para férias. quando todos nos abandonam. quando és esquecido ou passas despercebido. quando alguém que amamos tem cancro. quando perdemos um amigo querido. quando o nosso marido, esposa ou filho morre. quando os sonhos morrem na praia. quando o nosso bebé não chega a nascer. quando o nosso filho não pode correr ou sequer andar. quando somos gozados ou perseguidos pela nossa fé. quando nos levam a família porque não negámos Cristo. quando não podemos ir à igreja em liberdade. quando vivemos com receio. quando a guerra chega. quando nos deitamos e falta a paz. quando a luz se apaga e não há ninguém ao nosso lado. quando não temos onde encostar a cabeça. quando perdemos o emprego e não temos como pagar as contas ou sustentar a família. quando o pão falta na mesa. quando os amigos estão ausentes. quando os irmãos não gostam de nós. quando não temos irmãos. quando crescemos sem uma família. quando não tens amigos na escola. quando o outro não quer saber. quando a igreja não te abraça. quando alguém te cobra algo que não conhece. quando és injustiçado. quando não sentes que os teus filhos são amados. quando o chão que conheces desaba. quando a manhã é escura. quando não conseguimos ver as cores e as caras daqueles que amamos.
sabemos [muito] pouco disto.
dar graças porque temos enraizado em nós a certeza de que o Deus sábio é soberano sobre a nossa vida e tem o direito de fazer o que desejar com ela. sim, nada nos pertence. demos graças por isto também.
um coração grato tem paz. aconteça o que acontecer.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

as árvores a ficarem mais leves.


 

Aprender a perder bagagem. Deixar coisas para trás, colocar as que não conseguimos resolver nas mãos de Quem tudo pode, confiar as que não sabemos a Quem conhece com detalhe e tem uma visão perfeita de todas as coisas. Largar para conseguirmos continuar e correr.

gostar de sentir estalidos debaixo dos pés.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

da ajuda que os manos dão.

 


Ajudar prontamente o Jojó a fazer a montanha de trabalhos para ele ficar despachado mais depressa e poderem ir brincar juntos. A cena logo muda e é o Jojó que tem de ajudar o Marcos.
Há coisas bonitas de presenciar.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

não andar por vista

Acordar e parecer que continuamos dentro do sonho.
 



chuva


Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
não faz ruído senão com sossego...

-Fernado Pessoa-

tarde sem aulas. doze à mesa.


uma vez por ano vamos juntos à Luz.

 





voltar diferente

Pisar as mesmas ruas que palmilhei na adolescência. As árvores. Sempre as árvores. Gigantes. Bonitas, com aquela cor de outono. Há caminhos novos e os autocarros têm mais um número. As papelarias e cafés permanecem acolhedores. Tudo me pareceu mais pacato. Mas talvez seja apenas eu que estou mais tranquila.
Sonhos desabaram e foram construídos aqui. Medos foram vencidos. O sentido de esforço e união foram solidificados grandemente. Desporto foi praticado até à exaustão. Conversas nasceram e alongaram-se. As partidas, as almoçaradas, as palavras no meio das manhãs de nevoeiro, os torneios, as danças. As primeiras grandes desilusões foram aqui vividas a par dos ombros amigos. Foi aqui que pensei que havia caminhos que não se separariam e que descobri a ilusão de tal. Também foi aqui que orei bastante. E, ao passar pelo mesmo local 20 anos depois, sorrio ao abraçar as respostas de Deus. Deus é bom. Deus é sábio e generoso. Amigos que estavam perto na altura, estão perto novamente  e de uma forma muito mais bonita.



 

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

a casa que já não é minha.

 
Cresci no último andar de um prédio, com vista para o Tejo. De manhã o sol nascia sobre o rio e nas noites luminosas era ver a lua estendida sobre a água. Isto e a chuva forte em dias de tempestade, tudo admirado da janela da cozinha, sempre como se fosse a primeira vez.
Regressar ao bairro, às ruas onde me movi até aos meus 18 anos tem um sabor misto de alegria, tristeza, estranheza, familiaridade e gratidão. É andar ao ritmo das lembranças que surgem a cada passo, ao passar por cada rua, paragem, estabelecimento e recanto. O ambiente, os cheiros, a cor do bairro nos dias de sol e nos dias cinzentos que acompanhavam tantas vezes o meu estado de alma em adolescente e abraçavam em criança. As árvores estão enormes.


 
A praceta, mais pacata que outrora, mais quieta. Mas, se fechar os olhos, ainda vejo o vizinho Fernando à porta do prédio na sua cadeira de rodas, informando quem estava em casa e quem já havia saído. A cadela Lassie a ladrar e a correr para nós e o dia em que deixou de o fazer. Uma certa vizinha do r/c a espreitar sorrateiramente e as nossas vozes despreocupadas, a correr e a brincar. Uma mãe de uma amigo que nos mantinha hidratados, dando copos de água pela janela. Vejo uma amiga a chegar e a acenar com um jornal desportivo ou uma revista de música na mão. Um grupo a jogar às escondidas à noite, a mangueira a dar banhos no Verão, os vizinhos a plantarem juntos as árvores e flores, a fazerem os canteiros. Bicicletas a descer a praceta e alguém a acabar no chão. Fintas aprendidas com uma bola de futebol, trabalhos da escola a serem feitos em conjunto, duas meninas a observarem uma trovoada abrigadas e tanto, tanto mais.
Em miúda, sonhava com o dia em que desceria a praceta vestida de noiva. Deus quis fazer as coisas de um modo diferente.


Desci e subi esta rua vezes sem conta. Nela aprendi a andar de bicicleta, fiz corridas com o meu pai, apanhei borboletas com a minha avó Guida, fui ter com a minha mãe ao lar a imaginar histórias na cabeça, joguei à sirumba com riscos feitos no chão e à bola até cair para o lado. No tempo em que as balizas eram feitas com duas pedras, os carros raramente passavam e os prédios do lado esquerdo não existiam e o rio estava sempre no nosso horizonte, como um presente constante. Talvez por isso fez-me tanta falta ver o rio quando saí dali.




é fã!



esta luz que desmaia ao fim da tarde, na sala dos meus pais.


liberdade religiosa

Alunos que podem abrir a Bíblia nas escolas públicas. Coisa boa. Algo não acessível a todos os países.
Enquanto estou com os meus alunos na escola, a ler e a estudar as Escrituras, penso no privilégio tão grande que temos. Orar pelos cristãos perseguidos deverá ser uma prioridade na nossa vida de oração. Irmãos que sofrem na pele o facto de amarem a Cristo.  Sinto-me sempre minúscula quando penso neles e ingrata pelas oportunidades que desperdiço no meio da liberdade que vivo.
Este mês, oramos de forma ainda mais específica por estes cristãos corajosos e fiéis. E pedimos que Deus nos dê um pedacinho da sua firmeza, fidelidade e entusiasmo pelo Salvador.
 




 


Mais sobre o IDOP aqui.
Informações sobre os países cristãos perseguidos no Persecution e no Open Doors.
Orar sem cessar.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Cada dia Te bendirei!


Uma tarde de sábado juntas. Mulheres diferentes. Idades, traços e gostos distintos, unidas por Cristo. É bonito encontrar beleza nas diferenças. No início deste tempo juntas, cada uma falou um pouco no que gosta de fazer no seu tempo livre. Foi engraçado ver as semelhanças com algumas, as surpresas e o conforto do esperado e conhecido noutras. Ouvir alguém dizer que gosta de fazer aquilo que pode fazer. Pensar em como seria o meu coração se não conseguisse fazer as coisas que... mais gosto. Seria eu agradecida se as minhas mãos ou intelecto não me permitissem escrever ou se as minhas pernas não me deixassem correr ou jogar à bola? Se os meus olhos não vissem as cores do céu ao entardecer e não pudesse segurar um livro e ler? A gratidão encontra-se no facto de estarmos satisfeitos com o que temos, com o que Deus nos dá. Ah, a tal Deus me ajude! Encontrar satisfação nas coisas que Ele me possibilita fazer e manter um coração agradecido se for privada das coisas que amo ou que maior prazer me dão. Envelhecer sabiamente, também. Enumerámos aquelas pequenas coisas que por vezes passam despercebidas e pelas quais devemos estar gratas, como os abraços, as coloridas folhas de outono ou ver um filho a desenhar. Foi bonito ouvir alguém agradecer pela paz que sente no final de um dia cheio. Paz. Algo que nunca valorizamos na totalidade, a não ser que venhamos a ter um dia falta dela. Poder descansar em paz, tranquilamente, é um privilégio que não alcança todos. Uma amiga falou da poesia que se ouve no silêncio, no meio da pilha de roupa por lavar ou arrumar. As coisas pequenas, que facilmente podem passar ao lado de um coração que tem os olhos fechados para a beleza dos momentos do quotidiano, que não vê além das tarefas. Se uma cama está desfeita, é porque alguém dormiu nela confortavelmente; se há loiça suja para lavar e arrumar, é porque aconteceu uma refeição em família; se os lápis estão gastos, é porque há meninos a aprender.
Abra os olhos! Agora.

onde está ela hoje?


O filho do meio usa diariamente a calçadeira para ajudar a enfiar o pé dentro dos ténis. Sendo o único a usá-la cá em casa, guardo-a num cesto na sua mesa de cabeceira. Ao calçar-se fora do quarto, arrumar a dita calçadeira no quarto novamente, exige dar uns quantos passos. Comecei a descobri-la em lugares estranhos. Atrás de uma almofada, debaixo de um livro. Primeiro, pensei que tinha apenas deixado ali, mas os esconderijos começaram a ser cada vez mais elaborados, à medida que o chamava a atenção para o facto de ter novamente deixado a dita desarrumada. Dentro do portátil, atrás da cafeteira, misturada entre a roupa por dobrar, na fruteira e por aí fora. Esta semana, fui dar com ela no móvel das recordações, qual objeto precioso.
Agora, sem estar à espera, no meio da lida diária, enquanto o Jojó está na escola, descubro-a em algum lugar que não lembraria a ninguém e sorrio.
Ah... as saudades que eu vou ter destes meninos um dia!

viver os filmes.

 
No mês de Outubro vimos com os meninos os filmes do Karate Kid, os 4 primeiros. Foi um sucesso, como já esperávamos.
O engraçado de ver filmes com eles, não é só o durante, mas também o depois, os tempos que se seguem. Quando vimos a saga "Regresso ao Futuro", o Marcos andou atordoado durante uns tempos. Ir ao passado, voltar ao futuro, encontrar as mesmas pessoas em ambos os tempos... um verdadeiro nó na cabeça do pequeno. Quando no dia 21 de outubro lhe disse que era o dia a que num dos filmes as personagens viajavam até ao futuro, perguntou: "Eles vem aí?" O espaço entre a realidade e ficção ainda não está totalmente delineado. O mesmo se passa por vezes com o Jojó, que já faz as perguntas mais cautelosamente.
Após vermos os filmes do Karate Kid, o mais novo passou a andar com uma fita na cabeça, como a personagem Daniel. O Jojó, pratica o salto visto no quarto filme sempre que tem uma oportunidade. E claro, os torneios entre os 3 têm abundado e me feito dizer várias vezes: "Ainda se vão magoar!"
Boys will be boys.


[foto tirada pela sis]

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

lego


Há mãozinhas que acordam mais cedo, ainda o dia não clareou, para poderem brincar com o lego antes de irem para a escola. Vou descobri-los muito quietinhos, com muito cuidado para não fazerem barulho a separar as peças para não acordarem o resto da casa.
Nos últimos tempos, há sempre algo diferente construído em cima da mesa.

sabe tão bem!

 
Numa tarde ou noite com amigos regada de conversa, em família a observar o empenho dos meninos ao descascá-las ou mesmo a dois, apenas com o Tim, após os filhos já descansarem. No silêncio da casa, com um copo de jeropiga caseira que uma amiga nos deu. Dar graças a Deus pelos momentos de tranquilidade no final de dias cheios.

rapazes.


"Ó tia, o meu cabelo está mesmo mal!", dizia o sobrinho há umas semanas.

Pensava eu, antes de ter rapazes, que esta coisa do cabelo era coisa de meninas. Mas que erro mais redondo! Cá em casa, sou a que passa menos tempo ao espelho a tratar do cabelo. Na verdade, há dias que saio sem sequer me ver ao espelho! E pentear, é coisa muito rara. Eu já devia saber, porque o marido já há algum tempo que passava algum tempo de volta do cabelo, mas, depois de ter sobrinhos e filhos entendi ainda melhor. Gel, cera, estica, levanta, baixa a crista, vê de frente, mira de lado...ai, mas que complicados são os gaiatos! O mais pequeno é o que dedica mais tempo a esta questão da cabeleira, os outros são mais despachadinhos. Não há vez em que não vá com os manos à cabeleireira e  não saia de lá também com uma crista, que a senhora que os atende já sabe do que o miúdo gosta e faz-lhe o jeito para o ver satisfeito. Chama-o no final e lá vai ele com um sorriso de orelha a orelha até junto dela.

abrir a casa para receber amigos. há coisa melhor?