quinta-feira, 4 de junho de 2015

raízes, o vento leva.

 

O mais velho é o primeiro a sair de casa com o pai, de carro. Um pouco depois, saio eu com os dois mais novos, a pé.
Fazemos o caminho habitual até à escola, normalmente a cantar. Vemos as galinhas, os patos e o peru. De vez em quando um cavalo e ovelhas. Estou a descartar as formigas, os caracóis, as borboletas e afins. Perto da escola paramos para ouvir e descobrir os sapos. Dizemos bom dia a uns quantos vizinhos e colegas pelo caminho. As tias, passam às vezes por nós e apitam. Acenamos ao motorista do autocarro que todos os dias faz questão de nos cumprimentar, com um sorriso bem disposto. Esta coisa boa de aprofundar raízes no local onde vivemos, mesmo que aqui não pertençamos, é bonita de viver, de sentir.
 


Recordo um professor de Geografia no secundário que falava na importância das pessoas se identificarem com o local onde moram. Com o senhor do pão, com a árvore da esquina, com o banco da rua, com os vizinhos, com a mercearia do bairro e por aí fora. Aquelas pequenas coisas que nos fazem sentir à vontade ou trazem consigo aquele sentimento de sermos acarinhados pelo ambiente que nos rodeia. Diria o povo, de nos sentirmos em casa. Vivi até aos 18 anos com este sentimento bem vincado em mim. Vivia num bairro que amava, onde conhecia as pessoas e cada canto e recanto. Cada rua uma lembrança, cada loja uma cara simpática, cada vizinho um amigo. Vi crescer as árvores. Aliás, plantei com o meu pai e vizinhos algumas delas. Conhecia de cor o cheiro e cenário da minha praceta num dia de sol e num dia de chuva. Se fechar os olhos ainda a vejo em cada estação, ao pormenor. Saí de lá para uma cidade estranha e custou-me muito.
Anos depois, após passar por 3 moradas, sinto-me quase em casa outra vez. Ter família perto ajudou bastante. No início, tudo era novo e não havia lembranças em lado nenhum. Foram construídas durante os últimos nove anos. Aprendi a começar. A ter esperança. A depender menos dos cenários e das pessoas e mais de Cristo, que permanece. Agora, as árvores e recantos já são familiares e as caras que vemos fazem sorrir o coração. Mas sei hoje que tal é de longe o menos importante. Porque a minha morada real não é aqui. Não pertenço a este mundo e nele jamais encontrarei pleno sentido de pertença. Anseio pelo regresso. O regresso ao lar.


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