Dei por mim a pensar nas férias de Verão da minha infância, ao ler
este livro.
A escola chega ao fim. 3 meses inteirinhos pela frente! O entusiasmo quase não cabe dentro do peito e os gelados da Olá estão novamente à venda, com um novo cartaz e novidades. [ó não! já não há o corneto de café?!]
Para além das habituais três semanas de acampamento no ABS, altura mais ansiada do ano, ficava por vezes mais uma semana na Farinha Branca, com a minha avó Guida. Comer figos com pão debaixo da enorme figueira, almoçar sardinha ou carapau, tomar banho num alguidar vermelho gigante, lavar roupa no tanque, ir buscar água ao poço do tio António, garantir que mantinha o devido afastamento da burra que já tinha atirado gente ao chão, dormir a sesta e ouvir histórias de outros tempos. Eram algumas das coisas que preenchiam os nossos dias. Na minha mente estão vivas as imagens da minha avó com o seu chapéu de palha largo a caiar a casa e as noites em que me garantia que o barulho que eu ouvia não eram ratos. O seu olhar e sorriso, os mais doces que alguma vez vi.
O restante tempo de férias era passado em casa, pois o meu pai tinha o hábito de não tirar férias. Na verdade nunca me importei com a situação, tinha uma praceta de amigos à minha espera. Respirar fundo e mergulhar nas aventuras dos dias quentes. Acordar cedo e olhar para a então inércia saborosa dos dias largos, sem nada para fazer. Aliás, coisas para fazer não nos faltavam e mesmo o não fazer nada era para nós o estar a fazer alguma coisa. Jogar à bola, tomar banhos de mangueira, conversar nos bancos verdes, ouvir rádio, gravar cassetes, ensaiar teatros de histórias inventadas, ir à biblioteca, alugar VHS no clube de vídeo do bairro, acabar com as bolachas existentes no armário, descer a rua de bicicleta ao final da tarde, jogar às escondidas à noite. Regressar a casa derreada quando as forças se acabavam para no dia seguinte começar tudo de novo como de uma novidade se tratasse. Havia a segurança e a bravura de descobrirmos o mundo, juntos, sob o olhar dos vizinhos que nos guardavam com carinho. Era um mundo dentro de outro maior e a imaginação de criança bastava para nos levar além dele, sem dele sairmos.