quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

quando o dia se prepara para descansar


 

 
 


 
 
 


O entardecer deverá ser a minha hora preferida do dia. Se bem que há dias em que a noite é a minha melhor amiga, após os três rapazes estarem todos sossegadinhos a dormir. Mas vá, por norma, é mesmo o entardecer. Acho que sempre foi. Sempre gostei da luz do final de dia espelhada nas coisas e nas faces das pessoas, nos caminhos. À minha mente vem a praceta onde cresci e os vizinhos a regressarem a casa e as conversas rápidas à porta do prédio. Os finais de dia na escola a jogar ping pong ou à conversa com amigos, debaixo das árvores. O acampamento. A luz sobre os pinheiros, o cheiro a jantar que se espalha devagar, o regresso da piscina ou do campo de futebol, pachorrentamente. A praia, na minha adolescência, quando começava a esvaziar, os jogos de vollei e a travessia do Tejo nos cacilheiros, a sentir o vento na cara e a sonhar com o futuro, qual menina adolescente.
Sim, sempre gostei do entardecer. Há qualquer coisa na sua luz que me encanta. A preparação para a noite, o reunir novamente os que amo em casa, o abrandar. Gosto disso. As crianças em pijama a andar pela casa ou em algum canto a fazer o que mais gostam. Um filho que encarna o Hulk e corre pelo corredor, outro que canta agarrado a um microfone como se não houvesse amanhã ou toca viola e ainda outro que dá toques numa bola no quarto ao som de um cd antigo, que é novo para ele. Os candeeiros que se acendem em casa e na rua, as portadas ainda abertas. O cheiro a comida que vai contagiando a casa devagar. A antecipação boa de estarmos todos juntos ao fim de mais um dia, à volta da mesa e da Palavra.


 

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