segunda-feira, 11 de novembro de 2013

devagar

Abro a portada da cozinha pela manhã e olho o céu. O sol entra timidamente através da janela. Respiro fundo. A noite passou e os olhos quase não conseguiram fechar-se. Medi temperaturas, dei medicamentos, consolei, abracei e orei. Agora, com a força que de mim não vem, os olhos abrem-se para um novo dia. Com os músculos a moverem-se devagar preparo uma caneca de café. A roupa da cama do Marcos, que devido à febre tive que tirar, permanece no chão da cozinha, pronta para entrar na máquina de lavar. Os xaropes estão alinhados na bancada da cozinha, com a folha dos horários de cada toma. Dos quartos vem ainda o som do respirar de pequenos que dormiram mal de noite e que ainda descansam. Embalada por eles, bebo um gole do meu café. Respiro fundo. Regresso à cozinha e coloco a roupa na máquina, que começa a girar. O gato segue-me silenciosamente.
Mais um dia dentro de portas. Mais uma oportunidade para amar, cuidar e acarinhar. O olhar prende-se nas seguintes palavras: "Today, I will transfigure all things into beauty, and I will refuse to see anything else."

[escrito na sexta feira]