quarta-feira, 7 de setembro de 2016

quem sabe um dia...


Não faço surf. Nunca fiz e quase vos garanto que nunca farei. Talvez por essa incapacidade estar tão presente em mim, sempre me senti um tanto fascinada pela coisa. Por essa capacidade que outros têm de entrar no mar sem medo, de ser amigo da onda e com ela apanhar boleia. O cheiro do mar embutido na pele, pertencer ao mar durante um pôr do sol. Tudo isto deverá ser um romantismo tosco, mas dou comigo a ler as crónicas do Cadilhe e a imaginar-me descalça, numa praia quase deserta, de prancha na mão. Se houver uma pão de forma no cenário, tanto melhor. Depois observo o solitário Andres Kozminsky a fazer uma prancha de balsa, na periferia deste mundo.  Observar o mar e esperar a onda, ensina mesmo isto, a esperar. Esperar por algo que não depende só de nós. Fixar o olhar.
Quando era miúda e vi o “Point Break” com o Swayze e o Reeves , guardei na mente a cena em que fazem surf à noite, com os faróis dos carros a iluminar a água. Eu avisei que era um romantisco tosco. Depois vejo o Free Ride, dos anos 70 e há ali qualquer coisa que me prende. Também me parecia mais simples na altura, mais em bruto. Mas isso sou eu, que não percebo patavina do assunto.
Quando o equilíbrio não é amigo e nadar não é o nosso forte, ficamo-nos pelos livros e filmes e alimentamos o sonho com a vivência dos capazes.

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