sexta-feira, 18 de março de 2016

Era uma vez um gato chamado Flippy...


O Tim chegou a casa dos pais com uma bola de pelo clara, enquanto festejávamos o aniversário da avó Josefina. Foi a festa dos miúdos! Assustadiço, escondeu-se de imediato. O Samuel deu-lhe o nome. Quando chegámos a nossa casa, escondeu-se novamente, nervoso com tanta agitação, andar de casa em casa o dia todo, viajar de carro. Corremos a casa toda e os possíveis esconderijos e fomos dormir sem saber dele. No dia seguinte, descobrimo-lo na biblioteca, na prateleira das bíblias. Gato sábio, pensámos. Refúgio certo. Nos primeiros dias era vê-lo a balançar nos cortinados, satisfeito. Desde logo percebemos que era um gato especial. Gostava de sonecas, sim, mas o que mais apreciava era estar onde os miúdos estavam ou, na falta deles, quando cresceram e começaram a ir à escola, ao pé de mim. A companhia sabia-lhe bem. Percorria a casa atrás do Marcos, quando este ainda só gatinhava. Permanecia junto deles nos momentos tranquilos e nas brincadeiras. De vez em quando um deles dava com ele uma cambalhota, entre outras coisas. Era sem dúvida o gato mais paciente e meigo que alguma vez conhecemos. Também era persistente. Se o tirava do meu colo, ele vinha, devagarinho, vezes sem conta até eu desistir e deixá-lo ficar aninhado. Ronronava durante as vacinas, sem se mexer. Dormia aos pés da nossa cama, muitas vezes em cima das nossas pernas. Passou pelas camas de todos nós, por épocas. Gostava de correr atrás das borboletas e de brincar com gafanhotos. Achava as sonecas ao sol deliciosas. Entrava no carro de qualquer pessoa e estava sempre pronto para subir para o colo de alguém que estivesse em nossa casa. Gostava dos dias de churrasco. Vigiava a grelha e o que saía dela atentamente. Era generoso com os gatos sem dono que vinham comer a nossa casa, afastando-se da taça da comida para deixar outro comer. Não foram poucas as vezes que tivemos de tirá-lo do telhado, por ter medo de descer. Ia e voltava a correr connosco quando íamos despejar o lixo. Ao fim do dia acompanhava-nos sempre a fechar as portadas. Levava-nos fielmente até à esquina da nossa rua sempre que íamos para a escola ou treinos. Quando chegávamos a casa vinha sempre ao portão receber-nos. Foi uma das coisas da qual mais senti falta, chegar a casa e não o ter a correr para nós.
Este gato ensinou-me a gostar de gatos. Desde que ele chegou que nenhum gato na rua me passa despercebido e passei-os a ver com olhos novos.
Era uma vez um gato chamado Flippy, o nosso gato.



















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