No sábado à noite a minha voz foi fazer uma viagem e ainda não voltou. Lá apanhou bons ares para outros lados.
Isto de tentar fazer-me entender sem pronunciar palavras audíveis tem muito que se lhe diga e pode ser mesmo um desafio. Quando se está em casa com três crianças e as tarefas e actividades sucedem-se, o silêncio não é de todo uma opção. Lá tenho tentado de todas as maneiras possíveis comunicar. Vou falando em segredo, apesar desse esforço deixar-me exausta. Já fiquei rouca anteriormente, até um pouco afónica, mas não me lembro de alguma vez ter estado assim.
Porém, como em quase tudo na vida, tenho tido oportunidade de observar coisas interessantes.
Nas reacções dos outros à minha incapacidade ou dificuldade em comunicar, aprendo também um pouco acerca de cada um. Ora vamos lá então partilhar as pérolas que tenho constatado. Há as pessoas impacientes, que parecem pensar "ai, que maçada esta dificuldade e que pachorra é preciso para lhe entender!" Depois há as bem educadas, que sorriem como se estivessem a perceber tudo o que digo, acenando com a cabeça, mas mostrando claramente com o olhar que não entenderam nada. Também há as que fogem, só para não passarem pelo teste de me entender ou não. As que têm vergonha, não sei bem do quê, mas que sorriem e nada dizem, com um receio misterioso de apanhar algo estranho. Há ainda as que enquanto esperam que eu acabe parecem dizer "vá, despacha-te lá, que isto é uma seca!" E depois há as raras, que, cheias de paciência e cuidado, realmente escutam e tentam perceber-me. As que perdem mais uns minutos a ouvir.
A diferença é sempre recebida com dificuldade, raramente com naturalidade.
Mas também tenho aprendido sobre mim. E percebido que, diariamente, com os meus filhos, há coisas que posso evitar dizer, que são desnecessárias. Posso ralhar menos, sem dúvida. O silêncio, por vezes, é uma opção sábia e traz consigo harmonia e alegria. Às vezes, ouvir é suficiente.
Marcos: Vais ficar assim para sempre?!?
Jojó: Já tenho saudades da tua voz, mamã!
Samuel: Esta noite não vais cantar, pois não, mamã?... Ufa!
Marcos: Eu não percebo o que dizes!
Samuel: Venham, eu traduzo!
Samuel: Venham, eu traduzo!
Jojó: Vá, faz um desenho. Depois eu venho ver.
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