Recebi a semana passada pelo correio um “pacote volumoso” – assim classificado pelos CTT. Era um filme há muito procurado e esquecido: Falling in Love. Vi-o no Quarteto quando tinha 20 anos... Corria o ano de 1984! Uma jóia pura.
Sinopse: Encontro Com O Amor – título português - é um brilhante exemplo da magia que é criada quando dois dos mais conceituados actores de Hollywood se juntam. Robert De Niro e Meryl Streep aparecem novamente juntos depois de “O Caçador” (1978). Em Encontro Com O Amor eles interpretam Frank Raftis e Molly Gilmore, duas pessoas comuns que se conhecem pela primeira vez ao acaso, e depois por opção. Só há uma coisa que se atravessa no meio deste intenso e novo amor de Frank e de Molly - ambos já são casados. Um dilema genuíno, onde De Niro, Streep e um excelente elenco que inclui Harvey Keitel, dão vida a uma história carregada de sensibilidade. A realização é de Ulu Grosbard, dramaturgo/ realizador belga mais ou menos obscuro.
Observações: O filme é fortemente inspirado em “Brief Encounter”, dirigido por David Lean nos idos de 1945, com Celia Johnson e Trevor Howard. “Brief Encounter” é um classico a preto e branco com uma fotografia lindíssima. As cenas na estação com o vapor dos comboios competem no nosso imaginário com cenas semelhantes de “Casablanca”. O filme foi originalmente uma peça muito assistido de Noel Coward que fez as delícias dos londrinos precisamente antes de rebentar a 2ª Guerra Mundial. Os paralelismos nos dois filmes – feitos a 40 anos de distância – são evidentes. O primeiro tem a ver com o dilema moral dos protagonistas. Nenhum deles quer magoar os seus respectivos esposos. Todavia, enquanto no filme de Lean (1945) não se consome a relação adúltera, no de Grosbard (1984) a relação é consumada com um “happy ending” típico de Holywood. Eu diria que socialmente os dois filmes são um produto do seu tempo. Em “Brief Encounter” – as nuances do título são imensas e remetem para os encontros clandestinos das mulheres emancipadas que se revelaram durante a 2ª Guerra Mundial – a classe média é ainda a espinha dorsal da moral emocional da sociedade. Sim, porque os pobres eram vulgares nas suas “escapadinhas”; os ricos eram tolos; só a classe média tinha a consciência dos valores essenciais da família. Tudo isto é dinamitado em “Falling in Love”. Os personagens de Streep e De Niro, têm um envolvimento natural que todos prevemos e antecipamos sem soluços morais. Até achamos que dizer “adultério” será antiquado. Aquilo é amor, pois então!!! O segundo ponto de contacto entre os dois filmes é a cena a puxar para o drama. No filme de Lean há um breve instante em que a actriz Celia Johnson pensa em cometer suicídio debaixo dum comboio quando se apercebe que não mais irá ver Trevor Howard. Em “Falling in Love” Streep quase se mata enfiando o carro contra um comboio quando pensa que nunca mais irá ver Robert de Niro.
Curiosidades: Meryl Streep está em estado de graça. Recebeu o óscar da Academia por “A Escolha de Sofia” (1982) e irá fazer “Africa Minha” (1985). No meio este “Falling in Love”. Os tiques de Robert de Niro transitam de “Taxi Driver” (1976), “New York New York (1977), e “O Caçador” (1978) para “Falling in Love”; só os dispensa em “A Missão” (1986) de Roland Joffé – a sua redenção. A cena do guarda-roupa de Streep com peças à “Dallas” é uma delícia. O ensaio que De Niro faz para si mesmo sobre as “deixas” para meter conversa com Streep é um charme. Os comboios são um encanto...
-Filipe Samuel-
2 comentários:
O cinema e tu...uma paixão que conheço tão bem!
Wow, Samuel!!!! Depois de uma descrição destas, não haverá quem não sinta vontade de ver os filmes. Excelente texto! Como sempre!!! Parabéns e bem-vindo!
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