quarta-feira, 29 de julho de 2015

sopro


Não há maior lembrança da vida do que a morte. A morte ilumina a realidade. Põe a eternidade às claras. Tem esta capacidade de fazer a vida passar diante dos nossos olhos em minutos breves.
Entro no portão do cemitério. As palavras ecoam: “O pó volte à terra e o espírito volte a Deus que o deu.” Vida. Esse fôlego que nos escapa. As vestes pretas contrastam com o azul do céu. Cinzas do que fomos. Visão do que viremos a ser.
No mesmo instante bebés choram pela primeira vez, apaixonados casam-se, velas são sopradas. Emoções distintas no mesmo globo. Lado a lado. Girando sem trégua. A música é interrompida pelo silêncio. Caminhos que se atropelam, outros que seguem separados. Vida. A pulsar a cada passo que dou. Vida que bate mesmo que não dê passo nenhum. Vida que o é fora e além de mim.
Instantes que se juntam em dias e anos. Encontros que ficam por acontecer. Pessoas que os meus braços não alcançam a tempo ou tantas vezes quanto desejado. Vale-me saber que os verei em breve e que terei todo o tempo do mundo para desfrutar da sua companhia. Um lugar onde poderei abraçar sem os braços nunca doerem, sem a disposição ou o tempo faltar. Mas... e aqueles que provavelmente não encontrarei? E sinto como que um murro no estômago.

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