quarta-feira, 24 de agosto de 2011

avivando...

A terra dos meus pais, avós e bisavós traz inúmeras memórias agarradas a ela. Uma a uma acendem na minha mente. Bailam por entre o pó, o cheiro dos figos e do pinheiro bravo. Trazem consigo cenários antigos, antes do grande incêndio que aconteceu no Verão de 2000 ou 2001.
As figueiras continuam lá. Ano após ano. Firmes. A destilar doçura. Muitas foram as barrigadas de figos que apanhei em gaiata com o meu pai, debaixo da árvores. Um figo numa mão e um pedaço de pão na outra. Assim mandava a tradição.








Passámos um tempo agradável com o meu tio João, a tia Emília e os primos João, Sílvia e a Francisca, que estavam lá a passar uns dias de férias.



Lembro-me das videiras em frente da casa outrora branca. Vejo a minha avó Guida com um chapéu de palha grande a caiá-la. A avó Sofia a varrer, o avô Henrique sentado num banco de palha. O tio António a tratar da burra e a trabalhar na clareira que já não existe. A tia Júlia debaixo do telheiro a arranjar feijão verde.
Quando de férias com a minha avó, íamos buscar água fresca ao poço, atravessávamos a horta para ir lavar roupa no tanque, faziamos carapaus e sardinhas para o almoço e íamos à loja a pé, cantando, conversando, rindo. Sim, porque as conversas com a minha avó sempre acabavam com uma de nós a rir. As tardes pediam sesta, quando o calor alentejano lá fora apertava. Os banhos eram tomados num alguidar que na altura parecia-me gigante. Afinal era só grande. Ouvia o sino no ABS tocar, sem o avistar. Os pinheiros altos encarregavam-se de o proteger. Agora a vista alcança longe. Os pinheiros, uns estão a crescer, outros foram-se de vez. À noite olhávamos as estrelas e escutávamos os grilos. As corridas até ao acampamento aconteciam várias vezes ao dia.
As histórias de outros tempos, quando a minha avó era jovem, sucediam-se. Gostava de ouvi-las. Agora sei que gostava sobretudo de ouvi-la. Voz doce, olhar por vezes distante, mas sempre meigo. Ainda consigo sentir a ternura do seu abraço aconchegante. Sinto imensamente a sua falta


O meu primo levou-nos horta dentro para apanharmos louro. Não fazia ideia do tamanho da árvore. Na verdade, pensava que o louro vinha de um arbusto. Ignorâncias de menina da cidade. Trouxémos alguns ramos. Batata assada com louro será a ementa de alguma refeição durante esta semana.


Respirar aqueles ares traz-me sempre de volta a casa satisfeita.

3 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito de ler o teu texto. Trouxe-me também memórias muito claras da família alargada de outrora e dos meus tempos de gaiato (e olha que eu não sou muito de saudosismos!). beijinhos

João Narciso

Rute Carla disse...

hehe! então apanhei-te.

abração.

Anónimo disse...

o saudosismo é coisa boa quando traz memórias doces :-)